domingo, 1 de agosto de 2010

VISÃO SISTÊMICA SOBRE O FILME: "O SOM DO CORAÇÃO"


 

Quem assistiu o filme “O Som do Coração” poderá perceber a bagagem sistêmica que a trama contém se prestar atenção em alguns detalhes marcantes.
O início do filme começa com a cena de um garoto num lar de crianças para adoção. Durante todo tempo, só ele ouvia uma música, como se fosse um chamado, uma certeza. Ele tinha a certeza de que o dia que ele aprendesse música, seus pais o encontrariam. Como ele tinha essa certeza, mesmo sendo caçoado pelos colegas? Por que ele agia diferente dos outros meninos do lar, que já tinham perdido a esperança de conhecerem seus pais?
Podemos chamar de inconsciente coletivo, intuição, sexto-sentido, mas o fato é que nossa alma sempre sente a verdade, por mais escondida que ela possa estar. Ela se manifesta na nossa vida, nas nossas relações e nos nossos sentimentos. No trabalho sistêmico é possível encontrarmos soluções para sentimentos como estes do garoto do filme.
Outra passagem marcante do filme é o encontro do casal, que se conhece numa noite, se atraem, ficam juntos sem saber o porquê. Duas pessoas completamente perdidas, emaranhadas, fugindo de si mesmas. Como explicar o que os atraiu?


Bert Hellinger - filósofo alemão que descobriu as constelações familiares - relata que quando um homem e uma mulher se atraem, freqüentemente de modo irresistível, ou seja, como se fosse capturado por essa pessoa, não sabemos exatamente porque e pensamos que estamos somente em dois indivíduos – o homem e a mulher, porém, por detrás do homem e da mulher estão também sua mãe e seu pai, seus avós, seus irmãos e tudo que aconteceu em cada família e/ou sistema. Cada sistema aguarda outro sistema que talvez possa finalizar algo sem solução no passado, ou seja, na maior parte das vezes, um sistema contém a cura do outro. E é justamente isso que faz com que nos apaixonemos por A e não por B, por exemplo.


Após o casal se apaixonar perdidamente, esse amor é impedido pelo pai de Lyla, que a faz deixar o rapaz. É notável que a filha carrega o pai e que ele deposita nela todas as frustrações de sua viuvez, e a filha, por sua vez, é fiel a mãe, pagando o preço com sua infelicidade e desrespeitando a lei da hierarquia, ou seja, para que o pai não siga a mãe na morte, a filha faz tudo que ele quer para segurá-lo na vida.


O pai ainda entrega o bebê da filha para adoção sem o seu consentimento após um acidente que a mesma sofre, para que o relacionamento de Lyla com Louis não desse certo mesmo. Porém, depois disso, é como se ela soubesse que uma parte dela estava perdida. Ela fica muito deprimida e abre mão inclusive de sua única fonte de prazer, que é tocar violoncelo e o pai dela adoece gravemente. O pai do bebê, Louis, sem ao menos saber que Lyla ficou grávida após o encontro, também abre mão da música boicotando sua felicidade e vivendo com uma tristeza profunda, como se estivesse lhe faltando algo.



É possível ver, no trabalho sistêmico, como muitos homens que não foram informados sobre uma gravidez, ou que tiveram seus bebês abortados sem seu conhecimento, sentem-se deprimidos sem nem saber que a gravidez existiu. Porém, a alma sempre sabe, o inconsciente sabe.



Outras passagens do filme ainda mostram outros conteúdos sistêmicos como a gratidão e a fidelidade aos pais adotivos, a atrocidades feitas em nome do amor, a sintonia universal que une a todos, a luta de sobrevivência do sistema pedindo solução, o tomar os pais, o agradecer a “algo maior” que nos rege e nos guia, a metade pai e a metade mãe que nós somos.



Concluo refletindo que devemos mesmo seguir o “som do nosso coração”, pois o inconsciente sempre sabe, a alma sabe e o sistema sempre pede a solução. Estamos aqui para ser felizes, portanto, siga a música interna que há dentro de você, não se importe com o que as pessoas vão dizer, olhe para seu vínculo de destino, ofereça algo de bom aos excluídos, diga sim e seja feliz!

 
Roberta Engle Barsotti – musicoterapeuta e terapeuta de Constelações Familiares e Organizacionais.









Um comentário:

  1. "Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho..."

    Um professor me disse um dia...nos separamos pelos mesmos motivos que nos unimos...não entendi no momento, mas hoje eu sei...Mas se permitir é o início e acreditar e o segundo passo...

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